Não era época de amoras, mas o jardim da Universidade discordava.
Eu, minha amiga, Ele e outro
amigo unimo-nos para a árdua tarefa de recolher amoras, apesar das grades que
nos distanciavam da amoreira. E foi assim que tudo começou. Depois desse dia,
passamos a nos ver com frequência. Mesmo quando não estávamos todos reunidos,
eu o via perambulando pelos corredores e pelas redondezas da Universidade.
Sempre na companhia do seu amigo ou da sua namorada. Com o passar do tempo, era
cada vez mais comum vê-lo sozinho. E tornou-se cada vez mais comum o fato de
pararmos para conversar quando dava tempo. E quando não dava, também. Eu era
estagiária no contra-turno e, lá na Universidade, existe um lugar reservado
para o "café dos estagiários". A restrição não parecia importar muito
para Ele, meu novo amigo não-estagiário. Passamos a nos encontrar diariamente
nos meus intervalos e, cada vez mais intensamente, comecei a ouvir uma vozinha
na minha cabeça. E as palavras formavam algo como "Você está se envolvendo com o proibido!" Dizem que o que
é proibido sempre é mais gostoso. E dizem, também, que a euforia ocasionada
pela novidade pode ser arrebatadora. Eu não discordo. Meus dias arrastavam-se
lentamente quando não nos víamos. As coisas pareceram perder a graça quando eu
não estava rindo ao seu lado. Minhas amigas não aguentavam mais o nome dele saindo
da minha boca. À medida que nós dois conversávamos, íamos gostando cada vez
mais do que estávamos descobrindo.
Certo dia, enquanto conversávamos
relaxadamente sobre seriados de televisão, Ele me contou sobre seu
relacionamento ter ido por água abaixo. Tentei emitir algum som, mas fiquei com
medo de ser traída pela própria boca. Eu estava radiante por dentro, deixando
até mesmo alguma esperança florescer. Mas em qual universo alguém fica feliz
quando a pessoa pela qual está apaixonada fica triste? Tentei alguns tapinhas
no seu braço.
"Não se preocupe", eu
disse. "Vocês vão se acertar".
Silêncio. Eu sempre soube que era
um fracasso para consolar os outros.
"Quer conversar sobre
isso?", tentei outra vez.
No momento em que perguntei,
percebi que tinha feito besteira. Quero dizer, agora sei que foi a coisa mais
certa do mundo. Mas, naquela hora, sabia que tinha me metido em encrenca.
"Nós terminamos", Ele
declarou, fitando o chão. "Não estava dando certo, de qualquer maneira.
Éramos somente bons amigos há meses".
"Que chato", mexi num
fio solto da minha blusa.
"Falei que tinha me
apaixonado por outra pessoa".
Meu sangue congelou. No sentido
figurado, claro, porque o que aconteceu de fato foi basicamente o contrário:
ele foi bombeado violentamente para minhas bochechas.
Não era a hora de nos
apaixonarmos. Mas nossos corações discordavam.