7 de fevereiro de 2013

Das peças que você deveria ver

Maldito pré-conceito

Sentada em uma simples cadeira de plástico, sob o aparelho de ar condicionado barulhento enquanto os minutos de atraso levantavam um certo ar de suspense no ambiente escuro e repleto de cochichos, a Broadway da minha cabeça era bem mais silenciosa, elegante e suntuosa, sem dúvidas. O encarte publicitário que encontrava-se em minhas mãos poderia ter o nome de atores e atrizes conhecidos, em vez disso estampava uma montagem de um cavalo branco e um busto nu do protagonista. Quem sabe o que me esperava? Eu não estava lá muito confiante. No fundo da sala, uma animação um tanto quanto amadora tomava conta da parede. As duas mulheres sentadas na fileira da frente não paravam de conversar, a primeira delas tinha o pescoço avantajado e eu estava com a visão comprometida. A peça começou. O ator não me passava confiança, e tenho certeza que os outros espectadores estavam com a mesma sensação de tempo perdido, desilusão já prevista. Quem sabe, então, o que eles vieram a pensar após quinze minutos de encenação? O que eu sei é que eu estava visivelmente surpresa e inexplicavelmente feliz em saber que não estava perdendo tempo, dinheiro e – muito mais importante – a oportunidade de presenciar o talento em sua mais pura forma. Os quatorze atores que souberam surpreender e emocionar, juntamente com a iluminação, que cumpriu seu importantíssimo papel, e com o cenário muito bem enquadrado, a apresentação patrocinada pela Fundação Cultural de Curitiba foi digna da minha admiração e – posso garantir – totalmente ao nível de seu premiadíssimo autor, Peter Shaffer. Ganhadora do Prêmio Tony em 75 na categoria “Melhor peça de Teatro”, a história bastante polêmica é baseada em um fato verídico de um garoto de dezessete anos (Alan Strang) que, em uma só noite, cegou seis cavalos. A juíza responsável pelo caso encarrega o psiquiatra Martin Dysart de cuidar de Alan e descobrir o que o levou a cometer tal atrocidade. Durante as duas horas de peça, a história (já totalmente advinda da brilhante mente de Peter Shaffer) revela a mente doentia de Alan, a sua crença em um deus ciumento e todo poderoso que ele mesmo criou e que, além de pertencer só a ele, tudo vê e tudo julga.

Em quatro palavras: Bizarra e brilhantemente intensa.