30 de julho de 2013

A Praia

Meu corpo e o teu balançam juntos, ao ritmo das ondas.
Tua respiração no meu rosto é como a brisa, suave, ao mesmo tempo em que arranca com vigor todas as angústias d'alma. De maneira semelhante à sensação de liberdade junto à imensidão tranquila e azul, tua companhia me traz a despreocupada certeza de que aqui, na vastidão dos teus surdos sussurros, tudo que há é paz.

17 de julho de 2013

Morrer, só de alegria

Aconteceu há uns três anos. Estava parado ao lado de fora da livraria, com o cigarro na boca, tateando os bolsos em busca do meu isqueiro, quando um senhor apareceu. Não era um morador de rua, mas usava roupas rotas e cambaleava. Um forte hálito de álcool penetrou minhas narinas quando ele se aproximou, resmungando num tom baixo. Pelo jeito como indicou o cigarro com a mão, imaginei que quisesse fogo emprestado. 
- Só me deixe encontrar o isqueiro...
- Não tem cigarro?
Neguei com a cabeça.
- Esse é o último.
O olhar do velho parecia criar um braço imaginário e raptar o cigarro da minha boca. 
- O senhor quer esse?
Nem respondeu. Abanou a cabeça com tanto fervor que, meio espantado, retirei o cigarro da boca e repassei ao coitado, acendendo-o e vendo a fumaça da primeira baforada subir pelo cabelo desgrenhado daquela figura desesperada.
Nunca mais quis colocar um cigarro na boca, porque me pareceu desumano aquele estado de frenesi pelo simples ato de tragar. Naquele dia percebi que, dos vícios que matam a gente, quero distância. Se for possível, quero só os que parecem matar, mas de alegria.