5 de março de 2013

Embarcando

Estou apavorada.
Estou finalmente sentada no banco de trás do nosso palio 2006 verde-oliva que parece um besouro gigante, depois de meu pai ter feito com que eu conferisse 256 mil vezes se eu estava com meu passaporte e minhas passagens em mãos.
Olho no relógio. Já são quase dez da manhã e meu vôo sai às 11h20. O trânsito até o aeroporto está razoavelmente tranquilo para uma sexta-feira e meus pais estão conversando sobre alguma negociação da imobiliária. Estacionamos, o Sr. Tanaka retira minha mala do bagageiro e seguimos em frente, no ar quente de verão curitibano (pff, tá bom). Caminhamos os três, lado a lado, em meio às pessoas apressadas. Colocar os pés no saguão de entrada me traz uma alegria inexplicável, sensação recorrente sempre que estou partindo de viagem (seja para Ponta Grossa, São Paulo ou para Paris).
Faço o check-in e entro na livraria enquanto meus pais visitam uma loja de malas e acessórios de viagem. Leio o prefácio de Dear John e não consigo avançar, em parte porque não compreendo algumas das expressões em inglês e em parte porque não estou conseguindo me concentrar. Em poucos minutos vou me separar dos meus queridos pais e estarei prestes a embarcar em uma viagem de aproximadamente 21 horas.
Esqueci-me de pegar dinheiro antes de sair de casa e uma segunda (ou quinquagésima) olhada no relógio me diz que não teremos tempo de ir até o caixa eletrônico do primeiro andar, então a Sra. Tanaka me entrega uma nota de R$50, para o caso de alguma eventualidade. De volta à área de espera, relembro os acontecimentos de seis meses atrás. Meu coração incha um pouquinho e esqueço o medo enquanto penso que finalmente vou rever Eduardo.
Os minutos passam. Tento controlar o impulso de estralar os dedos: sinal incontestável de que estou em polvorosa. O Sr. e a Sra. Tanaka fazem suas últimas recomendações e nos despedimos trocando abraços e beijos. Minha mãe está chorando e eu tiro sarro.
Estou apavorada.

(TANAKA, Rafaela. "QUÊ?!", pg. 37-38)